Avanços na terapia gênica trazem novas perspectivas para a doença falciforme

Avanços na terapia gênica trazem novas perspectivas para a doença falciforme

Um paciente com a doença falciforme que atinge 50 anos de idade pode representar um custo superior a R$ 1,5 milhão ao SUS ao longo da vida, considerando o tratamento convencional. Já o investimento necessário para o transplante de células-tronco hematopoéticas é estimado em cerca de R$ 72 mil, uma alternativa mais acessível, porém limitada pela necessidade de um doador de medula óssea compatível. Nesse cenário, uma nova possibilidade vem ganhando destaque com o avanço das pesquisas e o surgimento de produtos clínicos: a terapia gênica.

No terceiro capítulo da série sobre a doença falciforme, o Por dentro da Pesquisa aborda o tema “Terapia gênica para doença falciforme”, com o Me. Felipe Augusto Rós, doutorando do Laboratório de Investigação Médica em Patogênese e Terapia Dirigida em Onco-Imuno-Hematologia (LIM 31) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), sob coordenação do Prof. Dr. Vanderson Rocha.

Atualmente, três principais estratégias se destacam entre os ensaios clínicos registrados na plataforma internacional clinicalTrials.gov: adição de β-globina terapêutica, indução de hemoglobina fetal (HbF) e correção da mutação da hemoglobina S (HbS). Essas abordagens utilizam três técnicas fundamentais: adição gênica, edição gênica e regulação pós-transcricional (shRNA).

A adição gênica é um dos métodos mais tradicionais. Nela, células-tronco hematopoéticas são coletadas do próprio paciente e modificadas em laboratório, onde genes terapêuticos são inseridos antes das células serem reinfundidas no organismo. Na edição gênica, em vez de adicionar um novo gene, o cientista modifica o DNA da célula utilizando a tecnologia CRISPR-Cas9. Essa técnica usa um RNA-guia para direcionar a enzima Cas9 a um ponto específico do genoma, promovendo um corte que permite aos mecanismos naturais de reparo celular corrigirem o DNA, abrindo caminho para o tratamento de diversas doenças genéticas.

Já a regulação pós-transcricional emprega o Short Hairpin RNA (shRNA), uma molécula artificial usada para silenciar a expressão de genes-alvo por meio da interferência de RNA. No laboratório, essas moléculas são inseridas nas células e, após a infusão no paciente, promovem o aumento da produção de hemoglobina fetal (HbF). Níveis elevados de HbF estão associados a uma forma mais branda da doença e a um melhor prognóstico clínico.

Até o momento, dois produtos de terapia gênica foram aprovados pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, com potencial de cura clínica: o Casgevy e o Lyfgenia. Ambos têm custo estimado em até R$ 17 milhões e estão sujeitos à aprovação da Anvisa para uso no Brasil.

Ainda no primeiro episódio, ressaltamos o impacto que essa doença genética exerce no país e no mundo. O Ministério da Saúde estima que cerca de 100 mil brasileiros convivem com o problema. Os pacientes apresentam alterações nos glóbulos vermelhos (hemácias), que adquirem formato semelhante a uma foice, e convivem com dor, infecções recorrentes, inflamação crônica e desregulação do sistema imunológico.

Fique atento às próximas edições do Por dentro da Pesquisa! Os vídeos são publicados nas mídias sociais do CTC-USP e no canal do YouTube do Hemocentro de Ribeirão Preto.

Sobre o Autor

INCTC administrator